domingo, 29 de março de 2015

Horta no Apartamento II


Quem gosta de cozinhar geralmente também aprecia ter ervas frescas à mão. Mas quem não mora em casa e não tem espaço para plantar na terra também pode dar seu jeito no apartamento.

Eu já tive vasos na beirada da janela da lavanderia, depois cultivei as ervas em vasos suspensos, ligados um ao outro por correntes, como mostrei aqui neste post de 2013.

Minha varanda
Este ano resolvi migrar tudo para a varanda. Só que a minha varanda, que não é grande (mede 4,5 m2), já tem uma porção de outros vasos, tanto no chão como na parede (só de orquídeas são 18 vasos).

Mas como não existe problema para o qual a Internet não mostre uma solução, encontrei várias ideias de vasos empilháveis, em materiais variados. E concluí que a solução mais viável e econômica seriam vasos de barro.

Eu já tinha um vaso grande onde tive um pé de romã (que hoje mora lá embaixo no jardim do prédio) e duas primaveras, que foram impiedosamente devoradas por cochonilas, até que desisti delas.

Aí providenciei outros dois vasos menores, que tivessem uma diferença mais ou menos proporcional de um para o outro, comprei terra e fui buscar mudas de ervas na feira de flores do Ceagesp (funciona às terças e sextas, das 5h às 10h30, na Av. Dr. Gastão Vidigal, 1946, na Vila Leopoldina).

Trouxe salsa, coentro, cebolinha, dois tipos de manjericão e tomilho. Um exagero. Também fiquei na maior dúvida sobre quais ervas plantar junto. E cometi o erro básico de plantar salsa ou coentro com outras ervas, quando todo mundo sabe (menos eu) que essas aí não são boas vizinhas de ninguém.

A primeira versão da horta
A horta ficou bonita por um tempo e depois, logicamente, precisei fazer a manutenção: replantar algumas coisas, retirar outras e tal. Aí mudei tudo de lugar. Manjericões sozinhos no vaso de cima, hortelã sozinho no vaso do meio, que cresceu que foi uma beleza e encobriu as ervas do vaso maior.

Semana passada dei uma podadona, hoje fui buscar mudas novas e mudei mais algumas ervas de lugar de novo. Agora o hortelã está no vaso de baixo, o maior, e pode crescer e esparramar à vontade. No vaso do meio ficaram tomilho, sálvia e alecrim. No vaso de cima, 2 tipos de manjericão. A cebolinha e a salsa ganharam vasos independentes. Porque ninguém precisa viver no aperto, não é?

Mas o importante é sentir como cada erva se desenvolve e fazer as mudanças necessárias. Regar todo dia no calor e a cada 2 dias quando não estiver tão quente. E lembrar que nem toda erva dura para sempre. Algumas, como a cebolinha, renascem rapidamente quando cortadas um pouco acima da raiz. E se alguma plantinha morrer, não é motivo para desistir!




Como montar a horta nos vasos sobrepostos

Esta é a configuração da minha horta. É apenas uma referência, que pode ser adaptada para o espaço e os materiais disponíveis:

O primeiro vaso tem 35 cm de diâmetro por 35 cm de altura. O segundo tem 28 cm de diâmetro, e o terceiro tem 18 cm de diâmetro.

Enchi o vaso maior de terra até uns 15 cm da borda. Aí acomodei o vaso médio, encostando-o em uma das paredes do vaso maior, de modo que mais ou menos 2/3 dele sobressaíssem acima da borda do vaso maior. Em seguida coloquei mais terra no vaso maior para firmar o vaso do meio.

Então enchi de terra o vaso do meio, até faltar uns 10 cm para chegar à borda. Acomodei o vaso menor, encostando-o na borda do vaso do meio, do mesmo lado em que ele encostava no vaso maior. Coloquei mais terra para firmar.

Em seguida abri as covinhas para cada torrão de muda, plantei e completei com terra conforme necessário, nivelando.

Usei terra vegetal com um pouco de vermiculita (que ajuda a controlar e manter a umidade do solo). No lugar em que estão os vasos, bate o sol da tarde por algumas horinhas, dependendo da estação do ano, porque a varanda é fechada por muro. E não tem vento. Acho que as ervinhas estão felizes ali.


A Carol Costa, do blog Minhas Plantas, tem uma série de vídeos muito legais sobre vários tipos de horta caseira, desde vasinhos para espaços pequenos até vasões e canteiros para quem tem quintal ou chácara. Estão aqui:

http://minhasplantas.com.br/tv/horta/horta-perfeita-para-quem-tem-pouco-espaco/
http://minhasplantas.com.br/tv/horta/sabia-que-da-para-comer-a-flor-do-girassol/
http://minhasplantas.com.br/tv/horta/desafio-horta-que-da-pra-comer-em-1-mes/
http://minhasplantas.com.br/tv/horta/o-truque-perfeito-pra-horta-vertical-ficar-linda/
http://minhasplantas.com.br/tv/horta/minha-horta-desafio-5-horta-da-trabalho/

Meu pezinho de limão siciliano

Aliás, eu recomendo assinar o canal de vídeos dela. É impressionante como tem informação útil, explicada em linguagem muito acessível!

*****

Tenho também um vaso de erva cidreira, que veio de Minas Gerais. A erva cidreira é diferente do capim cidreira, mais comum, pois tem folhas parecidas com as de hortelã, mas mais aveludadas. O meu vaso está com ramos meio pernudos, talvez porque a planta esteja se esticando para alcançar a luz do sol. O capim cidreira forma uma touceira grande, e infelizmente eu não tenho espaço para um vaso dele, mas adoraria, porque o chá é delicioso, quente ou gelado.

E por fim, meu pé de limão siciliano, plantado a partir da semente da fruta em janeiro de 2013, está com mais ou menos 1,70 de altura, muitos espinhos e começou a dar umas ramificações laterais. Espero que ele continue bem no vaso e um dia dê frutos!

domingo, 8 de março de 2015

Mulheres fenomenais, poesia e pudim de pão


Dia Internacional da Mulher, a gente está sempre dizendo, não é dia de dar parabéns, rosas, chocolates ou cartões de gosto duvidoso. O 8 de março é um dia de luta. Porque por mais que as mulheres tenham conquistado tantas coisas, ainda falta muito para termos uma sociedade igualitária (somos em menor número nos altos cargos nas empresas e nos cargos públicos eletivos, divisão doméstica de tarefas ainda é utopia na maioria dos lares) e segura para as mulheres (em média 15 mulheres são assassinadas por dia, geralmente por homens próximos a elas).

Então eu queria aproveitar este dia para falar de mulheres que lutam por um mundo mais justo para outras mulheres. Aí uma amiga me apresentou à ativista pelos direitos civis, a norte-americana Maya Angelou, falecida em maio de 2014 aos 86 anos. Natural de St. Louis, Missouri, Maya foi estuprada pelo namorado da mãe aos 8 anos de idade, passou 5 anos sem falar uma só palavra, e mais tarde transformou a dor em luta e solidariedade, combatendo especialmente o racismo e o machismo.

Foi escritora, poeta, professora universitária, roteirista, dramaturga, atriz, diretora, compositora, cantora e dançarina. Foi a primeira motorista de ônibus negra de São Francisco e se tornou mãe solteira aos 17 anos, em uma época em que isso era um grande tabu. Foi editora de revista no Cairo e assistente administrativa em Gana. Envolveu-se na luta pela independência de alguns países africanos. Trabalhou para Martin Luther King. Recitou um poema na posse do ex-presidente dos EUA Bill Clinton em 1993. Foi amiga próxima da apresentadora Oprah Winfrey e admirada pela família do presidente Obama (a irmã dele foi batizada com o nome da poeta em sua homenagem). Sem dúvida, uma mulher fenomenal, não é?

Mulher Fenomenal é justamente o título de um lindo poema de Maya Angelou, talvez um dos mais conhecidos. Nele a poeta desafia os inatingíveis padrões de beleza que tentam nos impor e diz a respeito de si mesma: eu sou uma mulher fenomenal. Então eu quero oferecer este poema (traduzido por mim, não reparem) a todas as mulheres, para que todas nos olhemos no espelho e digamos: somos todas fenomenais, e não vamos permitir que jamais nos digam o contrário!

Foto: Bob Richman © 2010 Harpo, Inc.

 Mulher Fenomenal
De Maya Angelou

Mulheres bonitas se perguntam qual é o meu segredo.
Não sou bonita nem tenho corpo de modelo
Mas quando começo a lhes dizer
Elas acham que estou mentindo.
Digo que
Está no alcance dos meus braços,
Na largura dos meus quadris,
No ritmo dos meus passos,
Na curva dos meus lábios.
Sou mulher
De um jeito fenomenal.
Uma mulher fenomenal,
É o que eu sou.

Entro na sala
Com toda a calma e segurança,
E me dirijo a um homem,
Os rapazes se levantam ou
Se ajoelham.
Eles se aglomeram ao meu redor
Como um enxame de abelhas.

Eu digo,
É o fogo dos meus olhos,
E o brilho dos meus dentes,
O balanço da minha cintura,
E a alegria dos meus pés.
Sou mulher
De um jeito fenomenal.
Uma mulher fenomenal
É o que eu sou.

Os próprios homens se perguntam
O que veem em mim.
Eles tentam tanto
Mas não conseguem alcançar
Meu mistério interior.
Quando tento mostrar a eles,
Eles dizem que não conseguem ver.
Eu digo,
Está na curva das minhas costas,
No sol do meu sorriso,
No percurso dos meus seios,
Na graça do meu estilo.
Sou mulher
De um jeito fenomenal.
Uma mulher fenomenal
É o que eu sou.

Você entende agora
Por que eu não abaixo a cabeça
Não grito, não me agito
Nem preciso levantar a voz.
Quando você me vir passando,
Eu hei de te fazer sentir orgulho.
Eu digo,
Está no som dos meus saltos,
Na curva de meus cabelos,
Na palma da minha mão.
Na necessidade de meu cuidar.
Porque sou mulher
De um jeito fenomenal.
Uma mulher fenomenal,
É o que eu sou.

Essa mulher fenomenal também adorava cozinhar e comer, e publicou dois livros de receitas, “Hallelujah! The Welcome Table: A Lifetime of Memories with Recipes” e “Great Food, All Day Long: Cook Splendidly, Eat Smart”.

Dela, selecionei uma receita simples e aromática, daquelas de aquecer a alma. Diferente do pudim de pão mais conhecido por aqui, nesta receita o pão não é batido e se mantém em pedaços. Espero que gostem!

PUDIM DE PÃO
Ligeiramente adaptado do livro Hallelujah! The Welcome Table: A Lifetime of Memories with Recipes” de Maya Angelou

Rendimento: 4 porções
Tempo de preparo: 90 minutos
Nível de dificuldade: fácil

2 pãezinhos (francês ou de sal) amanhecidos
Manteiga, o quanto baste
½ xícara de passas sem semente
½ xícara de açúcar
2 ovos grandes, batidos
1 xícara de leite
1 colher de sobremesa de extrato de baunilha
½ colher de chá de canela em pó

Pré-aqueça o forno. Unte 4 ramequins com manteiga e reserve.
Espalhe manteiga em ambos os lados das fatias de pão, coloque-as em uma assadeira forrada com papel alumínio e leve ao forno, até as fatias estarem tostadas de ambos os lados.
Enquanto isso, coloque as passas em uma tigela com água quente. Cubra, deixe por 20 minutos, escorra a água e reserve.
Bata ligeiramente os ovos, adicione o leite, o açúcar, o extrato de baunilha e a canela em pó e misture bem.
Quebre o pão torrado em pedaços pequenos (mas sem esfarelar totalmente) e coloque-os em uma tigela. Adicione as passas. Despeje a mistura de ovos sobre o pão e misture.
Distribua entre os ramequins untados, coloque-os sobre uma assadeira e cubra com papel alumínio. Asse por 30 minutos.
Sirva morno ou frio.


Meus agradecimentos pelas ideias e revisões deste post e de modo geral, pela amizade valiosa e pelas lições de feminismo a: Iara (que foi quem me apresentou a Maya Angelou), Karla, Vevê, Fabiana, Ludmila, Tâmara e Ana Rüsche (poeta também e autora do livro que aparece na foto). Um agradecimento especial a Carol Costa, do site Minhas Plantas. pelo incentivo e espaço. Vocês são fenomenais!

Para conhecer melhor a vida e obra de Maya Angelou, visite seu site: http://www.mayaangelou.com/