domingo, 8 de março de 2015

Mulheres fenomenais, poesia e pudim de pão


Dia Internacional da Mulher, a gente está sempre dizendo, não é dia de dar parabéns, rosas, chocolates ou cartões de gosto duvidoso. O 8 de março é um dia de luta. Porque por mais que as mulheres tenham conquistado tantas coisas, ainda falta muito para termos uma sociedade igualitária (somos em menor número nos altos cargos nas empresas e nos cargos públicos eletivos, divisão doméstica de tarefas ainda é utopia na maioria dos lares) e segura para as mulheres (em média 15 mulheres são assassinadas por dia, geralmente por homens próximos a elas).

Então eu queria aproveitar este dia para falar de mulheres que lutam por um mundo mais justo para outras mulheres. Aí uma amiga me apresentou à ativista pelos direitos civis, a norte-americana Maya Angelou, falecida em maio de 2014 aos 86 anos. Natural de St. Louis, Missouri, Maya foi estuprada pelo namorado da mãe aos 8 anos de idade, passou 5 anos sem falar uma só palavra, e mais tarde transformou a dor em luta e solidariedade, combatendo especialmente o racismo e o machismo.

Foi escritora, poeta, professora universitária, roteirista, dramaturga, atriz, diretora, compositora, cantora e dançarina. Foi a primeira motorista de ônibus negra de São Francisco e se tornou mãe solteira aos 17 anos, em uma época em que isso era um grande tabu. Foi editora de revista no Cairo e assistente administrativa em Gana. Envolveu-se na luta pela independência de alguns países africanos. Trabalhou para Martin Luther King. Recitou um poema na posse do ex-presidente dos EUA Bill Clinton em 1993. Foi amiga próxima da apresentadora Oprah Winfrey e admirada pela família do presidente Obama (a irmã dele foi batizada com o nome da poeta em sua homenagem). Sem dúvida, uma mulher fenomenal, não é?

Mulher Fenomenal é justamente o título de um lindo poema de Maya Angelou, talvez um dos mais conhecidos. Nele a poeta desafia os inatingíveis padrões de beleza que tentam nos impor e diz a respeito de si mesma: eu sou uma mulher fenomenal. Então eu quero oferecer este poema (traduzido por mim, não reparem) a todas as mulheres, para que todas nos olhemos no espelho e digamos: somos todas fenomenais, e não vamos permitir que jamais nos digam o contrário!

Foto: Bob Richman © 2010 Harpo, Inc.

 Mulher Fenomenal
De Maya Angelou

Mulheres bonitas se perguntam qual é o meu segredo.
Não sou bonita nem tenho corpo de modelo
Mas quando começo a lhes dizer
Elas acham que estou mentindo.
Digo que
Está no alcance dos meus braços,
Na largura dos meus quadris,
No ritmo dos meus passos,
Na curva dos meus lábios.
Sou mulher
De um jeito fenomenal.
Uma mulher fenomenal,
É o que eu sou.

Entro na sala
Com toda a calma e segurança,
E me dirijo a um homem,
Os rapazes se levantam ou
Se ajoelham.
Eles se aglomeram ao meu redor
Como um enxame de abelhas.

Eu digo,
É o fogo dos meus olhos,
E o brilho dos meus dentes,
O balanço da minha cintura,
E a alegria dos meus pés.
Sou mulher
De um jeito fenomenal.
Uma mulher fenomenal
É o que eu sou.

Os próprios homens se perguntam
O que veem em mim.
Eles tentam tanto
Mas não conseguem alcançar
Meu mistério interior.
Quando tento mostrar a eles,
Eles dizem que não conseguem ver.
Eu digo,
Está na curva das minhas costas,
No sol do meu sorriso,
No percurso dos meus seios,
Na graça do meu estilo.
Sou mulher
De um jeito fenomenal.
Uma mulher fenomenal
É o que eu sou.

Você entende agora
Por que eu não abaixo a cabeça
Não grito, não me agito
Nem preciso levantar a voz.
Quando você me vir passando,
Eu hei de te fazer sentir orgulho.
Eu digo,
Está no som dos meus saltos,
Na curva de meus cabelos,
Na palma da minha mão.
Na necessidade de meu cuidar.
Porque sou mulher
De um jeito fenomenal.
Uma mulher fenomenal,
É o que eu sou.

Essa mulher fenomenal também adorava cozinhar e comer, e publicou dois livros de receitas, “Hallelujah! The Welcome Table: A Lifetime of Memories with Recipes” e “Great Food, All Day Long: Cook Splendidly, Eat Smart”.

Dela, selecionei uma receita simples e aromática, daquelas de aquecer a alma. Diferente do pudim de pão mais conhecido por aqui, nesta receita o pão não é batido e se mantém em pedaços. Espero que gostem!

PUDIM DE PÃO
Ligeiramente adaptado do livro Hallelujah! The Welcome Table: A Lifetime of Memories with Recipes” de Maya Angelou

Rendimento: 4 porções
Tempo de preparo: 90 minutos
Nível de dificuldade: fácil

2 pãezinhos (francês ou de sal) amanhecidos
Manteiga, o quanto baste
½ xícara de passas sem semente
½ xícara de açúcar
2 ovos grandes, batidos
1 xícara de leite
1 colher de sobremesa de extrato de baunilha
½ colher de chá de canela em pó

Pré-aqueça o forno. Unte 4 ramequins com manteiga e reserve.
Espalhe manteiga em ambos os lados das fatias de pão, coloque-as em uma assadeira forrada com papel alumínio e leve ao forno, até as fatias estarem tostadas de ambos os lados.
Enquanto isso, coloque as passas em uma tigela com água quente. Cubra, deixe por 20 minutos, escorra a água e reserve.
Bata ligeiramente os ovos, adicione o leite, o açúcar, o extrato de baunilha e a canela em pó e misture bem.
Quebre o pão torrado em pedaços pequenos (mas sem esfarelar totalmente) e coloque-os em uma tigela. Adicione as passas. Despeje a mistura de ovos sobre o pão e misture.
Distribua entre os ramequins untados, coloque-os sobre uma assadeira e cubra com papel alumínio. Asse por 30 minutos.
Sirva morno ou frio.


Meus agradecimentos pelas ideias e revisões deste post e de modo geral, pela amizade valiosa e pelas lições de feminismo a: Iara (que foi quem me apresentou a Maya Angelou), Karla, Vevê, Fabiana, Ludmila, Tâmara e Ana Rüsche (poeta também e autora do livro que aparece na foto). Um agradecimento especial a Carol Costa, do site Minhas Plantas. pelo incentivo e espaço. Vocês são fenomenais!

Para conhecer melhor a vida e obra de Maya Angelou, visite seu site: http://www.mayaangelou.com/


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