sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A comida das novelas: Arroz de forno da Penha

Hoje é o último capítulo da novela das 7 da Globo, Cheias de Charme. Várias amigas noveleiras virão aqui pra casa para assistirmos e nos emocionarmos juntas. Mas, desde quando final de novela da Globo virou motivo de comemoração?

Cheias de Charme teve 3 empregadas domésticas como protagonistas, o que não é exatamente estranho, dada a ascensão da classe C desde o governo do ex-presidente Lula, cuja economia permitiu um aumento de renda e trouxe essa camada da população para o universo do consumo, despertando, logicamente, o interesse do mercado e dos anunciantes de TV.

Mas a novela foi além: discutiu os direitos das trabalhadoras domésticas (sim, a vastíssima maioria das pessoas no trabalho doméstico é de mulheres, e a grande maioria destas é de mulheres negras), tocou na ferida da exploração do trabalho infantil, e no último capítulo vai mostrar a condenação do casal Sarmento por haver explorado o trabalho da empreguete Cida (personagem da atriz  Isabelle Drummond) desde os 12 anos de idade, em troca de casa e comida (o que é considerada situação análoga à escravidão), sem registro em carteira e sem direitos. Infelizmente, a prática de "pegar menina para criar" ainda persiste no Brasil, por incrível que pareça.

A novela foi um laboratório bem-sucedido de interação com a internet, e valeu-se da web também para promover conscientização sobre os aspectos legais do trabalho doméstico. Na trama, Penha (Taís Araújo) e Lygia (Malu Galli), que além de amigas (depois de terem sido empregada e patroa uma da outra), trabalham juntas no escritório Amaro Werneck, especializado em direito do trabalhador doméstico, gravam um vídeo sobre direitos e deveres de patrões/patroas e empregados(as), para ser publicado no site da empresa fictícia. Mas o site existe na vida real (vinculado ao site da novela) e, além do vídeo, contém links para reportagens e artigos sobre o tema. Mais do que mero entretenimento, está prestando um serviço público. Como não amar?

E houve cenas memoráveis, como aquela em que duas moradoras do condomínio Casagrande (nome, aliás, muito sugestivo) reclamam quando a Penha usa o elevador social e não o de serviço, e levam um esculacho de Otto (Leopoldo Pacheco). Apesar do ridículo da situação, a maioria dos condomínios de alto padrão aqui de São Paulo obriga as empregadas e babás a entrarem pela porta de serviço, e até aqui no meu prédio um síndico patético quis implementar a discriminação (que é proibida por lei), mas teve que recuar diante da reação dos moradores.

Para mim, em termos pessoais, foi a oportunidade de largar de preconceito contra as novelas, e hoje eu sou noveleira assumida e me divirto horrores com a minha rede de amigas comentando o capítulo no Twitter durante a exibição.

Uma dessas amigas noveleiras sugeriu que eu publicasse uma série de pratos das novelas, pois várias personagens produzem suas especialidades nas novelas e algumas receitas são publicadas em seu site.

Então eu preparei o arroz de forno da Penha quando essa amiga veio me visitar. A receita não foi publicada no site da novela, mas arroz de forno (que não é risoto, favor não confundir) é um prato que teve presença constante na minha infância, pois na minha casa de posses relativamente modestas, minha mãe o preparava para o almoço de aniversário de cada um de nós. Então é uma comidinha de memória afetiva que lembra comemoração.

E motivo para comemorar é o que não falta: um país um pouco menos injusto do que antes, onde as mulheres de baixa renda hoje começam a ter mais opções de trabalho, a informação circula mais do que antes e há esperança; uma novela engraçada e inovadora (que venham muitas outras); e claro, a amizade! Meu carinho por vocês, amigas feministas e noveleiras: Bia, Iara, Renata, Iara Ávila (vale ler o ótimo post da Iara sobre a novela aqui), Suely, Marília.



Arroz de forno

1/2 kg de arroz (usei arroz integral)
1/2 kg de sobrecoxas de frango desossadas e cortadas em cubo
2 gomos de calabresa cortada em cubos
200 g de ervilhas
50 g de azeitonas verdes descaroçadas e cortadas em rodelas
6 ovos cozidos, descascados e cortados em rodelas grossas
300 g de molho de tomate (de preferência caseiro)
200 g de mussarela
Temperos a gosto: cebola e alho picados, sal, pimenta-do-reino, cominho e salsa picada
Óleo ou azeite

Lave e escorra o arroz.
Frite bem a calabresa, escorra, reserve e descarte o óleo.
Refogue bem os temperos (exceto a salsa) em um pouco de óleo ou azeite, adicione os cubos de frango e refogue bem.
Coloque o arroz e água (se usar arroz integral, na proporção de 1 parte de arroz para 3 de água), tampe a panela e inicie o cozimento.
Mais ou menos no meio do tempo do cozimento, adicione as ervilhas e azeitonas.
Um pouco antes do término do cozimento, adicione o molho de tomate e acerte o sal. Por fim, coloque a salsa picada, desligue a panela e mantenha tampada por algum tempo para o arroz secar bem.
Coloque o arroz em um refratário, alternando com camadas de mussarela e ovos cozidos.
Leve ao forno durante alguns minutos para derreter o queijo.

Opcionalmente, você pode preparar um refogado e usar com arroz previamente cozido.

2 comentários:

  1. Olha, eu gostei muito da novela, pena que na reta final não consegui acompanhar mais. Vai deixar saudades!

    Arroz de forno pra mim é delícia, uma das maneiras preferidas de aproveitar os restinhos da geladeira. Lembro com carinho que era a comida "boa" de merenda das escolas que estudei, aquele dia que até quem não comia merenda não resistia.

    (=

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