Hoje é o último capítulo da novela das 7 da Globo, Cheias de Charme. Várias amigas noveleiras virão aqui pra casa para assistirmos e nos emocionarmos juntas. Mas, desde quando final de novela da Globo virou motivo de comemoração?
Cheias de Charme teve 3 empregadas domésticas como protagonistas, o que não é exatamente estranho, dada a ascensão da classe C desde o governo do ex-presidente Lula, cuja economia permitiu um aumento de renda e trouxe essa camada da população para o universo do consumo, despertando, logicamente, o interesse do mercado e dos anunciantes de TV.
Mas a novela foi além: discutiu os direitos das trabalhadoras domésticas (sim, a vastíssima maioria das pessoas no trabalho doméstico é de mulheres, e a grande maioria destas é de mulheres negras), tocou na ferida da exploração do trabalho infantil, e no último capítulo vai mostrar a condenação do casal Sarmento por haver explorado o trabalho da empreguete Cida (personagem da atriz Isabelle Drummond) desde os 12 anos de idade, em troca de casa e comida (o que é considerada situação análoga à escravidão), sem registro em carteira e sem direitos. Infelizmente, a prática de "pegar menina para criar" ainda persiste no Brasil, por incrível que pareça.
A novela foi um laboratório bem-sucedido de interação com a internet, e valeu-se da web também para promover conscientização sobre os aspectos legais do trabalho doméstico. Na trama, Penha (Taís Araújo) e Lygia (Malu Galli), que além de amigas (depois de terem sido empregada e patroa uma da outra), trabalham juntas no escritório Amaro Werneck, especializado em direito do trabalhador doméstico, gravam um vídeo sobre direitos e deveres de patrões/patroas e empregados(as), para ser publicado no site da empresa fictícia. Mas o site existe na vida real (vinculado ao site da novela) e, além do vídeo, contém links para reportagens e artigos sobre o tema. Mais do que mero entretenimento, está prestando um serviço público. Como não amar?
E houve cenas memoráveis, como aquela em que duas moradoras do condomínio Casagrande (nome, aliás, muito sugestivo) reclamam quando a Penha usa o elevador social e não o de serviço, e levam um esculacho de Otto (Leopoldo Pacheco). Apesar do ridículo da situação, a maioria dos condomínios de alto padrão aqui de São Paulo obriga as empregadas e babás a entrarem pela porta de serviço, e até aqui no meu prédio um síndico patético quis implementar a discriminação (que é proibida por lei), mas teve que recuar diante da reação dos moradores.
Para mim, em termos pessoais, foi a oportunidade de largar de preconceito contra as novelas, e hoje eu sou noveleira assumida e me divirto horrores com a minha rede de amigas comentando o capítulo no Twitter durante a exibição.
Uma dessas amigas noveleiras sugeriu que eu publicasse uma série de pratos das novelas, pois várias personagens produzem suas especialidades nas novelas e algumas receitas são publicadas em seu site.
Então eu preparei o arroz de forno da Penha quando essa amiga veio me visitar. A receita não foi publicada no site da novela, mas arroz de forno (que não é risoto, favor não confundir) é um prato que teve presença constante na minha infância, pois na minha casa de posses relativamente modestas, minha mãe o preparava para o almoço de aniversário de cada um de nós. Então é uma comidinha de memória afetiva que lembra comemoração.
E motivo para comemorar é o que não falta: um país um pouco menos injusto do que antes, onde as mulheres de baixa renda hoje começam a ter mais opções de trabalho, a informação circula mais do que antes e há esperança; uma novela engraçada e inovadora (que venham muitas outras); e claro, a amizade! Meu carinho por vocês, amigas feministas e noveleiras: Bia, Iara, Renata, Iara Ávila (vale ler o ótimo post da Iara sobre a novela aqui), Suely, Marília.
Arroz de forno
1/2 kg de arroz (usei arroz integral)
1/2 kg de sobrecoxas de frango desossadas e cortadas em cubo
2 gomos de calabresa cortada em cubos
200 g de ervilhas
50 g de azeitonas verdes descaroçadas e cortadas em rodelas
6 ovos cozidos, descascados e cortados em rodelas grossas
300 g de molho de tomate (de preferência caseiro)
200 g de mussarela
Temperos a gosto: cebola e alho picados, sal, pimenta-do-reino, cominho e salsa picada
Óleo ou azeite
Lave e escorra o arroz.
Frite bem a calabresa, escorra, reserve e descarte o óleo.
Refogue bem os temperos (exceto a salsa) em um pouco de óleo ou azeite, adicione os cubos de frango e refogue bem.
Coloque o arroz e água (se usar arroz integral, na proporção de 1 parte de arroz para 3 de água), tampe a panela e inicie o cozimento.
Mais ou menos no meio do tempo do cozimento, adicione as ervilhas e azeitonas.
Um pouco antes do término do cozimento, adicione o molho de tomate e acerte o sal. Por fim, coloque a salsa picada, desligue a panela e mantenha tampada por algum tempo para o arroz secar bem.
Coloque o arroz em um refratário, alternando com camadas de mussarela e ovos cozidos.
Leve ao forno durante alguns minutos para derreter o queijo.
Opcionalmente, você pode preparar um refogado e usar com arroz previamente cozido.
Ceci, sua linda! Bon apetit! Beijos
ResponderExcluirOlha, eu gostei muito da novela, pena que na reta final não consegui acompanhar mais. Vai deixar saudades!
ResponderExcluirArroz de forno pra mim é delícia, uma das maneiras preferidas de aproveitar os restinhos da geladeira. Lembro com carinho que era a comida "boa" de merenda das escolas que estudei, aquele dia que até quem não comia merenda não resistia.
(=